Eleições Brasil afora | com Lucas Gelape & Marco Antonio Faganello | 239

As eleições municipais ganham tração por todo o Brasil. Após o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, o cenário eleitoral começa a sofrer alterações em diversas cidades, como mostram as pesquisas.

Esse fenômeno indica que não é correta a ideia, algo disseminada, de que atualmente só as redes sociais importam, tornando irrelevante a propaganda nos meios tradicionais.

Ainda que, de fato, as redes tenham ganho muito peso e modificado a dinâmica da disputa, a propaganda oficial ainda faz diferença.

Em que medida se pode falar numa disputa municipal nacionalizada? Isso seria mais verdadeiro em alguns municípios do que em outros? Como as diferenças territoriais internas às cidades afetam a dinâmica do jogo eleitoral? Quais os principais temas nestas disputas?

Para discutir tais questões este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe dois cientistas políticos, ambos pesquisadores de pós-doutorado no CEPESP, o Centro de Política e Economia do Setor Público da FGV em São Paulo.

Um é Lucas Gelape, mestre pela UFMG e doutor pela USP. O outro é Marco Antonio Faganello, mestre e doutor pela Unicamp.

As músicas deste episódio são “Burlesque” e “Highway Nocturne”, ambas do National Sweetheart, e “I Don’t think so”, do The Soundlings.

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#Eleições #EleiçõesMunicipais #PartidosPolíticos #Municípios
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O fenômeno Pablo Marçal | com João Cezar de Castro Rocha | 238

Na maior cidade do país, São Paulo, surge uma nova liderança no campo da extrema-direita: o influenciador digital e coach, Pablo Marçal.

Ele é um sucesso nas redes digitais, com grande número de seguidores e clientes, que buscam seus serviços motivacionais e voltados a, supostamente, assegurar sucesso profissional. Com tais serviços, enriqueceu e se tornou uma celebridade.

Daí, saltou para o campo político. Em 2022 concorreu a deputado federal, obtendo uma boa votação: 243 mil votos. Contudo, sua candidatura foi cassada por irregularidades no lançamento da candidatura por seu partido à época, o PROS, que se via conflagrado internamente, com uma luta encarniçada pelo controle da agremiação.

Em 2024, Marçal novamente se lança candidato, desta feita à Prefeitura de São Paulo, pelo PRTB, partido criado pelo falecido e folclórico Levy Fidelix, e que elegeu, como vice-presidente de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão.

Também nesta nova agremiação há conflitos semelhantes aos que levaram à cassação de sua candidatura anterior. Além disso, o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, confessou em áudio ter vínculos com a organização criminosa PCC.

Não bastassem as ligações de Avalanche com a facção, várias pessoas ligadas ao candidato têm também vínculos com o Primeiro Comando da Capital. E, não bastasse, o próprio Marçal foi condenado em 2005 por um esquema de fraude bancária. Ele só não cumpriu pena por ter recorrido durante 13 anos, até que o crime prescrevesse.

Com um comportamento agressivo e desrespeitoso, acusações caluniosas contra adversários e um posicionamento extremista, Marçal cresceu nas pesquisas, embolando a disputa pelo primeiro lugar de modo a ameaçar a candidatura do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Marçal também produziu um terremoto no bolsonarismo, ao aparecer como um eventual substituto da liderança de Bolsonaro nesse campo. Com isso, após um posicionamento ambíguo do ex-presidente no início da campanha, Marçal se tornou alvo de ataques dele e de seus filhos. Contudo, logo depois se reconciliaram. Os Bolsonaro perceberam que ao atacar Marçal se indispunham com sua própria base.

Que fenômeno é esse? O que significa a ascensão de Marçal na política paulistana, a ponto de ganhar repercussão nacional? Que riscos eles representa para a democracia?

Para discutir tais temas, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe João Cezar de Castro Rocha, professor titular de literatura comparada da UERJ.

Castro Rocha é autor dos livros “Bolsonarismo: da guerra cultural ao terrorismo doméstico: retórica do ódio e dissonância cognitiva”, publicado pela Editora Autêntica, e “Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político“, publicado pela editora Caminhos.

As músicas deste episódio são “Observer”, “Sofa” e “Good Energy”, todas de Dyalla.

#EleiçõesMunicipais #PartidosPolíticos #LiderançaPolítica
#Política #AnálisePolítica #ConjunturaPolítica #PolíticaBrasileira #CiênciaPolítica

Inteligência Artificial e a Democracia | com Fernando Filgueiras & Rafael Sampaio | 237

A inteligência artificial se tornou um dos temas – senão o tema – mais discutidos da atualidade.

Tornou-se objeto de debate o seu emprego na pesquisa científica, na produção artística, na publicidade, na segurança e, claro, na política.

Um dos aspectos mais debatidos da interação entre a IA e a política é o uso dessa ferramenta nas campanhas eleitorais, muitas vezes de forma desleal, fabricando imagens e sons que possam ser usados para iludir os eleitores e prejudicar os adversários.

Mas esse não é o único elemento relevante do uso da IA na política. A formulação de políticas públicas, a vigilância do Estado sobre os cidadãos, as relações de poder entre as Big Techs, as pessoas comuns e os governos, tudo isso constitui problemas de natureza política.

Como regular essa nova tecnologia, cada vez mais avançada e capaz de produzir efeitos ainda desconhecidos em seu alcance e consequências? Como evitar que a inteligência artificial seja usada para distorcer a competição política e afetar resultados eleitorais? Como regular essa ferramenta sem, com isso, prejudicar seu potencial positivo e cercear a liberdade?

Para discutir tais temas este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe dois cientistas políticos cujas pesquisas têm-se voltado ao assunto.

Um é Fernando Filgueiras, professor da Universidade Federal de Goiás (UFGO) e pesquisador do INCT Qualigov. Ele é coautor, ao lado de Ricardo Fabrino Mendonça e Virgílio Almeida, do livro “Algorithmic Institutionalism: the changing rules of social + political life”, publicado pela Oxford University Press.

O outro é Rafael Sampaio, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do INCT Democracia Digital.

As músicas deste episódio são “Deep State” do Vans in Japan, e “Desert Drive” de Everet Almond.

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O autoritarismo chavista antes de Maduro

Na atual discussão sobre o caráter autoritário do regime venezuelano sob Nicolás Maduro, surgiu a discussão sobre o quanto o atual presidente estaria rompendo com a política iniciada por seu antecessor e mentor, Hugo Chávez.
Minha avaliação é que não há ruptura, mas continuidade e aprofundamento.
Para deixar claro esse ponto, recupero aqui meia-dúzia de colunas sobre Chávez e o chavismo que escrevi para o Valor Econômico quando Chávez ainda estava vivo e no governo.
Como não consigo mais acessar esses textos pelo site do Valor, recuperei os manuscritos e os publico agora aqui, neste blog, da forma como foram originalmente escritos, apenas corrigindo pequenos erros de redação que notei agora, mas que me haviam escapado à época.

A protoditadura de Chávez – 1

Coluna publicada no Valor Econômico em 05/07/2007

As últimas declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, sobre a eventual adesão de seu país ao Mercosul tornam mais evidente o caráter do regime que vem paulatinamente sendo construído na Venezuela, desde a primeira eleição. Aquele país tem experimentado uma lenta e gradual transição de um regime democrático para uma ditadura – embora não possamos ainda dizer que a eliminação das condições de funcionamento da democracia já tenha se dado. É importante analisar com atenção a forma como a mudança vem ocorrendo na Venezuela, pois é justamente o seu gradualismo e suas ambigüidades que tornam tão difícil detectar o rumo autoritário que a Venezuela vem seguindo.

As ambigüidades do regime democrático venezuelano, aliás, remontam ao período anterior à ascensão de Chávez. Após o “Pacto de Punto Fijo”, firmado em outubro de 1958, consolidou-se na Venezuela um sistema bipartidário no qual a Ação Democrática (AD) e o Partido Social-Cristão (COPEI) se revezaram no poder, por meio da assim chamada “concertación”, que muito pouco espaço deixava ao ingresso de qualquer terceira força na cena política do país. Nada demais até aí, já que diversas democracias das mais estáveis do mundo também vivenciam regimes bipartidários bastante impermeáveis; contudo, a reduzida competitividade do sistema político venezuelano e a força das corporações beneficiárias do dinheiro do petróleo engendraram um grau de corrupção que acabou por deslegitimar o regime – que assumiu as feições de uma democracia fortemente oligarquizada.

O ápice dessa desagregação da legitimidade se deu durante o segundo mandato de Carlos Andrés Pérez, entre 1989 e 1993, primeiro por meio da tentativa de golpe de Estado perpetrada por Chávez, depois, quando Pérez sofreu o impeachment em virtude de denúncias de corrupção. A tradução institucional da dissolução do bipartidarismo oligárquico ocorreu com a saída do ex-presidente Rafael Caldera do COPEI, fundando uma nova agremiação, a Convergência, pela qual se elegeu novamente para o Executivo nacional em 1993. Durante seu mandato, Caldera anistiou ao golpista Hugo Chávez, que deixou a prisão e iniciou uma feroz oposição contra o presidente que lhe indultou, finalmente ascendendo ao poder após as eleições de 1998.

Chávez inicia seu mandato legitimado eleitoralmente, que ninguém poderia lhe contestar. Escorado nessa legitimidade e em grande popularidade, convocou eleições para uma Assembléia Constituinte na qual conquistou a grande maioria das cadeiras, podendo assim desenhar a nova carta de acordo com suas preferências. Foi aí que se iniciou a “Revolução Bolivariana”. O primeiro ato propriamente revolucionário – ou seja, de ruptura com a ordem democrática instituída – foi a autoconcessão de poderes soberanos pela Assembléia Constituinte de maioria chavista. Com isto, os constituintes subordinaram a si todos os demais poderes de Estado, eleitos ou não – o Executivo (liderado pelo chefe da maioria na Constituinte), o Legislativo (que ainda contava com maioria antichavista) e o Judiciário (também pouco flexível às demandas de Chávez). Noutras palavras, ao arrogar-se supremacia sobre os demais poderes de Estado, a Assembléia Constituinte tornou-se detentora de um poder absoluto – já que sem limites constitucionais ela própria – de modo a fazer com que o país operasse durante alguns meses sob um “absolutismo eletivo”. Muitos tiveram dificuldade para enxergar aí um primeiro experimento autoritário pelo fato da Assembléia ter sido eleita.

Finda a Assembléia Constituinte e, com ela, o absolutismo eletivo, criaram-se as condições para que o país retornasse à normalidade democrática – o que seria plenamente possível, a despeito do novo mandato presidencial de Chávez e da maioria chavista no Legislativo nacional e nos governos provinciais. Todavia, o clima político não era dos melhores, com a formação dos Círculos Bolivarianos (espécie de milícias de sustentação do Presidente que operavam também como conselhos comunais) e a postura cada vez mais agressiva da mídia oposicionista – em programas de TV chegava-se a fazer comentários sobre a sexualidade de Chávez e acerca de uma possível atração dele por Fidel Castro. Isto, acrescido ao enfrentamento do presidente com a elite social e econômica do país, culminando com a greve da companhia petrolífera (PDVSA) e a demissão de muitos de seus dirigentes, levou alguns setores do empresariado a – de conluio com militares descontentes – perpetrar um golpe de Estado contra o presidente, em abril de 2002. O tiro saiu pela culatra, pois Chávez retornou ao poder triunfalmente e a oposição se deslegitimou, por ter-se identificado com os mesmos métodos daquele a quem se opunha.

O novo triunfo de Chávez sobre a oposição se deu com o plebiscito convocado para aferir se havia disposição popular para manter o presidente no cargo. Esse expediente, uma espécie de “super-recall”, foi criado pela constituinte chavista e parecia voltar-se contra seu mentor. Todavia, a obtenção de quase 60% de votos favoráveis à manutenção de Chávez no cargo em agosto de 2004 reforçou-o ainda mais diante de seus opositores, pavimentando o caminho para que fosse novamente reeleito em dezembro de 2006. Noutras palavras, o golpismo da oposição e sua derrota eleitoral em ao menos três ocasiões após a ascensão inicial de Chávez ao poder tornaram difícil a alegação de que o presidente não estava democraticamente legitimado para exercer seu cargo. Tal situação ofuscava quaisquer ações antidemocráticas que o presidente pudesse perpetrar para expandir seu poder.

Mesmo a proximidade de Chávez com o ditador Fidel Castro e com o regime cubano são insuficientes para afirmar-se que, apesar das evidências – sobretudo da retórica inflamada e polarizadora – a democracia deixara de vigorar na Venezuela. Mas um passo crucial foi dado com a decisão de não renovar a concessão da rede televisiva que mais fortemente se opunha a ele, a RCTV. A justificativa de que a emissora apoiara o golpe contra o presidente parece não condizer com o passado golpista do próprio – que, aliás, foi indultado. A justificativa de que tudo foi feito dentro da legalidade também não é satisfatória, já que há leis que são iníquas e tanto aqueles que as fazem como os que optam por valer-se de algumas de suas autorizações não podem ser escusados em nome do legalismo – um vício sempre condenado pela esquerda, que hoje o invoca. Continuo na próxima semana.

A protoditadura de Chávez – 2

Coluna publicada no Valor Econômico em 12/07/2007

Na coluna passada apontei que a democracia venezuelana caminha gradualmente para sua dissolução, transitando para um regime autoritário. Apontei elementos indicativos de que já antes da ascensão de Chávez a democracia venezuelana era deficiente – oligarquizada e a corrupta – de modo que a emergência do chavismo tem raízes mais profundas na história do país. Passo decisivo na inflexão autoritária foi a decisão presidencial de não renovar a concessão da RCTV, com vistas a calar uma das principais vozes da oposição – voz que, faça-se justiça, nem sempre primou pelo oposicionismo leal, ou seja, ele próprio fiel à democracia, haja vista seu apoio ao golpe de Estado que apeou temporariamente Chávez do poder.

Mas a deslealdade oposicionista não foi monopolizada pela RCTV. Outros segmentos da sociedade contrários a Chávez participaram do golpe e perpetraram outras ações incompatíveis com as regras do convívio democrático – a desqualificação do adversário e a recusa em participar do jogo político institucionalizado. Desta forma, setores da oposição legitimaram atos de arbítrio do presidente. Um exemplo notável deste tipo de equívoco estratégico dos oposicionistas, que levou ao reforço do presidente e à legitimação de sua acumulação de poderes, foi a recusa de participar das eleições legislativas em dezembro de 2005. Com isto, os chavistas ganharam a totalidade das cadeiras no parlamento, permitindo ao presidente governar sem contrapesos e sem fiscalização legislativa. Esse parlamento unipartidário facilmente aprovou a “Lei Habilitante”, no final de janeiro último, permitindo a Chávez governar por decreto por 18 meses, num amplíssimo campo de assuntos. Com anuência parlamentar unânime, as matérias, ao invés de serem debatidas publicamente, passaram a ser decididas solitariamente pelo presidente.

A lei habilitante fez com que pela segunda vez, desde o início da era chavista, a Venezuela passasse a operar segundo os princípios de um “absolutismo eletivo” – ou seja, um poder absoluto, apesar de legitimado por voto popular. Da primeira feita, a Assembléia Constituinte de maioria chavista subordinou a si os demais poderes. Agora, foi o Executivo que se tornou absoluto, por delegação parlamentar. Novo avanço nessa direção deve advir do provável fim dos limites à reeleição do presidente, defendido por Chávez e que seria implementado mediante nova reforma constitucional. Nos parlamentarismos normalmente não há limites para a recondução dos primeiros ministros em seus cargos, mas eles permanecem sob controle do legislativo, podendo ser removidos a qualquer momento por um voto de desconfiança. Já em regimes presidencialistas democráticos, não há um só caso em que sejam permitidas reeleições ilimitadas. Mesmo nos Estados Unidos, onde isto era possível, uma emenda constitucional acabou com tal possibilidade durante o período de Franklin Roosevelt.

Imaginemos o que poderia significar um presidente com capacidade de se reeleger ilimitadamente e dotado de leis habilitantes, para governar por decreto. A falta de debate decorrente da delegação legislativa, associada à dificuldade por parte das oposições de exercer qualquer controle institucional, limitaria sobremaneira os freios à ação do poder Executivo. Isto, associado à intimidação dos veículos de comunicação, cuja operação pode ser suspensa à discrição do Executivo, tornaria ainda menor a fiscalização sobre o governo. Logo, o controle do mandatário mor da nação sobre recursos governamentais constituir-se-ia num forte elemento de desequilíbrio da disputa eleitoral, inviabilizando a alternância dos partidos no poder. Desta forma, o absolutismo eletivo converter-se-ia gradativamente num autoritarismo, na medida em que as diversas formas de controle sobre o governo fossem paulatinamente eliminadas, sob o manto de legitimação de eleições cada vez menos competitivas.

Ainda um ponto merece destaque: o presidente superpoderoso que emerge deste arranjo não é uma liderança de perfil discreto ou moderado, mas um animador de massas que promove sistematicamente o culto à sua própria personalidade. Exemplo curioso deste culto à personalidade é a promoção simultânea da Copa América e do presidente Chávez em materiais de divulgação do torneio. Murais espalhados pelas cidades venezuelanas destacavam o retrato do presidente ao lado da simpática arara que serviu de mascote à Copa. É o mesmo presidente que utiliza horas de programas dominicais em rede estatal de TV para se comunicar diretamente com a população como um animador de auditório que tem o dom (ou seja, o poder) de resolver todos os problemas com uma canetada. Note-se bem: o culto à personalidade não é característica de nenhum regime que não seja autoritário. Curiosamente, essa programação é replicada também pela TV estatal cubana, à exaustão.

Tudo isto torna muito problemática a admissão da Venezuela ao Mercosul. Como se sabe, um dos principais elementos institucionais do Mercosul é a cláusula democrática, que obriga todos seus membros a preservarem a democracia. Ela já serviu no passado recente para evitar um golpe no Paraguai. Mas será que diante das evidências de recrudescimento autoritário na Venezuela ela seria facilmente invocada no futuro? Quem poderá alegar que já não sabia?

Chávez e as Farc

Coluna publicada no Valor Econômico em 16/01/2008

Após uma seqüência infeliz de fiascos políticos num curto espaço de tempo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, logrou finalmente um êxito: o de libertar duas reféns há muitos anos mantidas presas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Sua “intervenção humanitária” rendeu-lhe loas até dos mais insuspeitos atores políticos – como o governo dos Estados Unidos, alvo freqüente de seus ataques. O curioso é que esse êxito ocorreu apenas uma semana após o imenso fiasco representado pela “Operação Emmanuel” – nome dado por Chávez à ação de libertação das mesmas duas reféns e, mais, do próprio Emanuel, filho de uma delas com um dos seqüestradores.

A “Operação Emmanuel” foi um duplo malogro político para Chávez. Primeiramente porque o adiamento contínuo da libertação dos reféns pelas Farc pôde ser finalmente explicado pelo fato de que a guerrilha não dispunha do garoto, supostamente em poder de um “fiel depositário” a quem os seqüestradores o confiaram. As Farc demoraram a descobrir, todavia, que o menino na realidade já se encontrava sob a guarda do governo Colombiano. A posse dessa informação permitiu ao presidente Álvaro Uribe denunciar que a devolução dos três reféns simplesmente não ocorria porque as Farc não dispunham de todos eles, mas de apenas dois. Chávez reagiu violentamente à revelação, tentou desqualificar a informação de Uribe, mas acabou desmentido pela própria guerrilha, que admitiu não ter mais consigo o garoto, kafkianamente acusando o governo colombiano de tê-lo seqüestrado. Até mesmo o exame de DNA da criança Chávez contestou, exigindo a realização de uma “contraprova” em laboratórios venezuelanos. E esta é a segunda razão do malogro da “Operação Emmanuel”: a admissão das Farc desarmou a reação chavista contra Uribe, impondo-lhe uma humilhante derrota ao desmoralizar sua empreitada como “agente humanitário bolivariano”.

Este duplo fiasco na frente externa foi particularmente custoso para Chávez porque o presidente venezuelano tentava por meio da “Operação Emmanuel” recuperar-se no front externo da séria derrota interna que lhe infligiram pouco antes – a do plebiscito que lhe permitiria implantar constitucionalmente e com autorização popular um regime autoritário em seu país. O protoautocrata venezuelano tentou superar de forma ambivalente a derrota: por um lado, avançando tentativas de reconciliação com a oposição por meio de uma anistia aos golpistas que tentaram apear-lhe do poder; por outro, anunciando que não desistiu de implementar suas reformas de construção autoritária, de modo que voltaria à carga um pouco mais adiante.

Se o sucesso na libertação dos reféns lhe daria novas forças, o fiasco da operação lhe debilitou mais ainda. Pior ainda tendo sido ele engambelado pelas Farc. É a partir deste ponto que se pode compreender o que ocorreu na seqüência.

O fiasco da “Operação Emmanuel” acarretou perdas políticas tanto para Chávez como para as Farc. Para a guerrilha porque, além de macular ainda mais sua imagem, debilitou os canais de diálogo que possui com o presidente da Venezuela – uma das poucas forças políticas no campo internacional capazes de atuar como mediadora entre os guerrilheiros e o governo colombiano. Para Chávez a perda decorreu da desmoralização provocada por mais um fiasco em tão pouco tempo – ainda mais depois da atuação (mais uma vez) performática do presidente venezuelano, que apareceu em público com roupas militares, indicando num mapa como seria a atuação de seus comandados na “heróica” missão de resgate. Como diz o provérbio, quanto maior a altura, maior o tombo; o fracasso da campanha militar tornou a performance algo patético, uma ópera bufa.

Tornou-se, portanto, do interesse das duas partes – Farc e Chávez – retomarem a operação de resgate dos seqüestrados, nada sendo mais natural do que ela ter ocorrido. A parte visível da retribuição do presidente venezuelano à benevolência das Farc para consigo foi seu patético pedido de reconhecimento da guerrilha como “força beligerante” ou “insurgente”, deixando-se de tachá-las como terroristas. Ironicamente, como que para desmentir seu defensor, nesse mesmo dia as Farc seqüestraram mais seis pessoas (turistas), elevando para 780 o número de civis em poder dos guerrilheiros – muitos deles crianças, retiradas de suas famílias para fins de extorsão ou para se tornarem soldados da “força insurgente”. Resta saber se, além de atuar como seu porta-voz, Chávez fez outras ofertas às Farc como forma de retribuir-lhes por terem limpado sua barra.

Chávez, Morales e Correa

Coluna publicada no Valor Econômico em 01/12/2008

Os recentes episódios do entrevero diplomático-empresarial entre o governo do presidente do Equador, Rafael Correa, e o Brasil – primeiro envolvendo a construtora Norberto Odebrecht e, agora, o BNDES – são sintomáticos de uma faceta já manifestada anteriormente no âmbito dos proto-regimes políticos (ou regimes em construção) nas nações chefiadas por lideranças de perfil “bolivariano”. Ela se traduz na agressão aos interesses de empresas e governos de “nações amigas” feita com base na suposta defesa do bem nacional contra alegados violadores estrangeiros, reivindicando uma legitimidade que se basearia no caráter “soberano” do ato de violência. Assim como são normalmente legítimas ações amparadas pela lei de uma nação soberana, seriam também passíveis de legitimação atos que, alegadamente amparados nessa mesma soberania, violassem contratos anteriormente firmados por sujeitos estrangeiros que cometeram a imprudência de confiar na “lei soberana” previamente em vigor.

A contradição é patente: algumas normas e procedimentos que antes eram legais e serviram de guarida a quem – de boa fé – firmou contratos, tornaram-se ilegais na nova ordem instituída pelos líderes “bolivarianos”, de modo que a implantação da nova (e superior) legalidade requer o cancelamento de acordos e a suspensão de direitos, que se tornaram ilegítimos. Se, por um lado, alguém pudesse afirmar que a criação de uma nova ordem legal é algo normal em qualquer Estado de Direito, seria também bom lembrar que, sob o império da lei, esta não retroage em prejuízo de ninguém. E o que Rafael Correa faz agora, assim como Evo Morales já fez anteriormente, é alegar que antes se vivia num mundo de ilegalidade que apenas pôde ser corrigido após sua ascensão ao poder, cabendo a eles atacar seletivamente os focos da transgressão dos interesses pátrios em nome da soberania nacional.

A possibilidade da criação dessa nova legalidade que pode descurar de toda a normatividade jurídica anterior se baseia, por sua vez, no suposto de que o processo político em curso é de natureza revolucionária. E assim sendo, nada que antes pudesse ser considerado (no âmbito de um Estado de Direito) limitador da ação dos governos, vale numa situação excepcional como esta. Em todos estes casos os líderes “bolivarianos” buscam dar formato legal a suas ações, legitimando-as por meio de novos decretos, leis e, sobretudo, novas constituições.

A importância das novas cartas constitucionais, que foram pedra angular institucional da construção do regime nos três casos aqui aludidos, é a de simbolizar a refundação do Estado, zerando o cronômetro político da história do país e inaugurando uma nova era. A reformulação constitucional apenas dá um caráter mais radical – apesar de seu legalismo – às mudanças em curso; afinal, criar novas constituições significa criar novos Estados. Quem levou este processo com mais radicalismo à frente foi Hugo Chávez, que inclusive ocupou-se de rebatizar o país, alcunhando-lhe com o qualificativo de república “bolivariana”.

O bolivarianismo, seja lá o que efetivamente possa conter como ideologia, não é contudo uma característica institucional facilmente decifrável sobre a Venezuela refundada por Chávez, como seriam por exemplo, os qualificativos de república “democrática” ou “federativa”. O que de mais específico há no tal bolivarianismo são seu caráter supranacional (já que o sonho de Bolívar era o de unificar a América Hispânica) e sua natureza revolucionária. Com isto, uma “república bolivariana” seria, por conseqüência, uma exportadora de revolução para o continente, de modo que o qualificativo dado pela constituinte chavista ao país tem como fito, na verdade, um movimento mais amplo do que a mera reforma das instituições nacionais – visa-se reformar o entorno.

Uma das características dessa estratégia é uma atuação bastante agressiva (para não dizer truculenta) contra opositores internos e – evidentemente, dada a natureza do movimento – também externos. Na frente interna um exemplo disto foi a intimidação de Chávez a seus adversários nas recentíssimas eleições regionais, ameaçando até mesmo enviar tanques aos lugares em que a oposição se saísse vitoriosa. Afinal, quem não é um revolucionário (ou, pior, quem se opõe à revolução) é um traidor da pátria.

Já na frente externa o exemplo melhor são as ações “anti-imperialistas” de Caldera e Morales, de dar o calote da dívida com “usurários” estrangeiros, como o BNDES, ou desapropriar plantas industriais de multinacionais que se apropriam das riquezas nacionais, como a Petrobrás. No caso da expropriação boliviana, o governo brasileiro assumiu uma postura conciliatória, respeitando a “decisão soberana” (no sentido aqui já aludido) do governo de Evo Morales. Já no caso equatoriano, embora a mesma legitimidade soberana tenha sido invocada, a postura brasileira foi a de diplomaticamente sinalizar o teor inaceitável da ameaça de calote – pois, embora o Equador tenha apenas apelado a uma corte internacional neste primeiro momento, ele o fez logo após anunciar o caráter ilegítimo da dívida do país, segundo a avaliação de uma comissão de especialistas escolhidos a dedo pelo presidente Correa para produzir exatamente este diagnóstico.

Esta reflexão é importante para que possamos ter em conta o risco que correm tanto o governo brasileiro como as empresas nacionais que estabelecem negócios com os governos desses países. Embora potencialmente atraentes, os acordos firmados vivem sob a ameaça iminente de serem denunciados como ilegítimos, caso em algum momento no futuro as necessidades da revolução façam com que se perceba como necessária alguma mudança de regra.

Poder-se-ia afirmar que o risco é menor para acordos feitos com os presentes governos boliviarianos, pois ocorreriam no âmbito de uma legalidade criada por eles mesmos – e não mais num passado de trevas, cuja superação cumpriria à revolução proporcionar. Embora isto realmente pareça plausível, é bom observar que “a revolução está em curso” e enquanto o mundo não for completamente mudado, aos olhos de revolucionários, mesmo o que ocorre com a sua anuência é passível de contaminação pela perversidade circundante, sendo necessárias repurificações periódicas. É aí que mora o perigo.

Chávez e o Mercosul

Coluna publicada no Valor Econômico em 17/12/2008

A aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul pelo Senado brasileiro na última terça-feira encerra uma longa novela de enfrentamentos entre o presidente Venezuelano, Hugo Chávez, e a oposição parlamentar na câmara alta brasileira. Agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está livre para dar seguimento ao processo de adesão do vizinho latino-americano ao bloco regional. Todavia, esse processo ainda pode demorar a se concluir, pois o Senado paraguaio apenas retomará a discussão em 2010 e, por lá, as perspectivas não são, ao menos por ora, muito alentadoras. O grande receio que havia por aqui, e que há também no Paraguai, é que a incorporação da Venezuela é arriscada para a sobrevivência do bloco, pois a lenta, gradual e segura escalada autoritária chavista põe em xeque a manutenção da “cláusula democrática” do Mercosul, segundo a qual não se tolerará o rompimento com a democracia nos países membros.

Há uma nota irônica nesta relutância do Paraguai em dar sequência à incorporação da Venezuela. Ela reside no fato de que, em 1996, o nosso sócio em Itaipu foi ameaçado por um golpe de Estado, perpetrado pelo general Lino Oviedo, contrariado com sua demissão do posto de comandante do Exército. O então presidente Juan Carlos Wasmosy foi pressionado por políticos próximos a Oviedo a renunciar ao cargo, mas conseguiu resistir. Sua resistência se deveu, em parte, à mobilização popular de apoio à legalidade, mas o que contou realmente foi a forte pressão exercida, de um lado, pelos países vizinhos, membros do Mercosul – Brasil e Argentina – e, de outro, pelo governo norte-americano, que chegou a abrigar Wasmosy em sua embaixada durante o entrevero.

Àquela época ainda não vigorava a famosa “cláusula democrática” do Mercosul, ao menos do ponto de vista legal. Se alguma preocupação com a preservação do regime democrático nos países membros havia, ela existia apenas nas boas intenções dos governos de então e na sua disposição de exercer voluntariamente pressão política sobre os eventuais transgressores da democracia. Isto fica muito claro ao ler-se o “Tratado de Assunção”, que deu origem ao bloco e é completamente omisso a respeito dos regimes políticos que os países porventura viessem a adotar.

O tratado normatiza apenas questões de ordem econômica e comercial (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0350.htm). A “cláusula democrática” apenas ganhou institucionalidade legal em julho de 1998 com o “Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul, Bolívia e Chile”. Naquela ocasião, os Estados membros do bloco e seus dois parceiros acordaram que qualquer rompimento da democracia num dos países, se não fosse corrigida após tentativas de negociação, poderia acarretar sanções que iriam “desde a suspensão do direito de participar nos diferentes órgãos dos respectivos processos de integração até a suspensão dos direitos e obrigações resultantes destes processos” (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4210.htm).

O Protocolo de Ushuaia resultou da percepção de perigo suscitada pela malograda tentativa paraguaia de um golpe de Estado. Note-se que essa ação golpista contou inclusive com o apoio de membros da elite política eleita, como os senadores oviedistas – algo bastante comum nos golpes de Estado, como no Brasil em 1964, ou em Honduras, mais recentemente. Portanto, era preciso mostrar aos líderes políticos (inclusive os com mandato eletivo) dos países membros do bloco (e aos futuros pretendentes) que novas aventuras autoritárias não seriam aceitas, pois acarretariam a perda dos benefícios econômicos que a integração com os demais Estados proporciona.

É justamente em função dessa cautela que têm surgido as principais resistências ao ingresso da Venezuela no Mercosul. Se ao fim e ao cabo a paulatina e dúbia escalada autoritária de Hugo Chávez tiver como desfecho um regime autoritário, o Mercosul correrá um forte risco de desmoralização. A primeira razão para isto é que, em função do próprio caráter gradualista e ambivalente do recrudescimento autoritário venezuelano, ficará difícil aos líderes dos demais países membros identificar o momento da mudança autoritária, aplicando as sanções previstas em Ushuaia. Em decorrência disto, diferentemente do ocorrido com o Paraguai em 1996, a pressão dos demais países contra uma definitiva guinada autoritária terá que se dar com uma situação de facto já instalada – e amplamente anunciada com bastante antecedência. Isto aumentará bastante os custos políticos para sancionar Chávez, ameaçando tornar letra morta a cláusula democrática.

É fato que até mesmo opositores a Chávez na Venezuela clamam pela aceitação do país no Mercosul. Seu argumento vai ao encontro de posições defendidas pela chancelaria brasileira, segundo as quais para manter a Venezuela no campo da democracia é necessário não isolá-la, mas integrá-la. É claro que isto pode ser questionado com base no fato de que a integração entre os países não se dá apenas por meio de sua incorporação a blocos regionais, mas mediante outras formas de relacionamento – comercial, político, cultural etc.. Colocando de outra forma, não incorporar a Venezuela ao Mercosul nem de longe tem o mesmo significado de, por exemplo, manter o embargo a Cuba. Isto sim é isolar um país. A incorporação a um bloco requer que, para além um bom relacionamento, haja muitas afinidades – e é a falta delas que tem impedido, por exemplo, a aceitação da incorporação da Turquia à União Européia por muitos de seus membros.

A oposição a Chávez na Venezuela interessa-se pela entrada no Mercosul porque, de uma forma ou de outra, isto aumentará a pressão externa sobre ele para que limite sua escalada autoritária. E isto é, evidentemente, um ganho para os que se opõem ao presidente. O outro lado dessa equação, entretanto, indica que o preço de limitar Chávez será pago pelo próprio Mercosul “como bloco” – aliás, já bastante combalido.

A primeira parcela desse custo provém do risco da desmoralização de Ushuaia. A segunda parcela advém do impacto que a entrada da Venezuela poderá ter sobre o papel do Mercosul como representante dos interesses comerciais de seus membros nas negociações multilaterais. Ora, como os países do Mercosul têm frequentemente negociado como bloco em fóruns internacionais de comércio, a acomodação de Chávez – e de suas posições heterodoxas e conflituosas – deverá tornar ainda mais difícil a construção de posições unitárias e passíveis de estabelecer acordos viáveis com outros países. Noutras palavras, o preço que o Mercosul corre o risco de pagar para evitar o isolamento da Venezuela será o de isolar-se a si mesmo.

Chávez, Uribe e o Brasil

Coluna publicada no Valor Econômico em 23/07/2010

Os presidentes venezuelano e colombiano, Hugo Chávez e Álvaro Uribe, são personagens com diversas semelhanças. Ambos são lideranças de tipo carismático, que não ocultam seus pendores autoritários e procuraram modificar as instituições políticas de seus países de modo a se perpetuar na Presidência – ou, ao menos, nela permanecer longamente.

Mas é claro que também há diferenças importantes: Chávez é histriônico, Uribe é discreto; o venezuelano vem conseguindo aniquilar os freios e contrapesos da moribunda democracia venezuelana, garantindo para si mesmo reeleições ilimitadas com mandatos longos (de seis anos), enquanto seu colega colombiano, embora tenha tentado obter um terceiro mandato (de quatro anos), viu-se limitado por esses mesmos mecanismos de controle, os quais lhe impediram de reeleger-se uma segunda vez; Chávez é de esquerda, Uribe é de direita.

Sumarizando-se, pode-se dizer que Chávez é um postulante a ditador bem-sucedido até agora nesta empreitada, enquanto Uribe acabou por ter que se sujeitar aos limites do Estado de Direito e em breve deixará a Presidência, tendo elegido facilmente seu sucessor graças à sua grande popularidade. A estratégia chavista para construir de forma paulatina um regime autoritário e centrado no culto à sua personalidade é a de driblar as estruturas limitadoras do poder com base no plebiscitarismo. Realizando diversas consultas populares e contando com a incompetência da oposição, o presidente venezuelano logrou minar pouco a pouco os espaços de atuação de seus adversários.

Os momentos mais notáveis do processo de construção do poderio chavista foram: a dissolução dos poderes de Estado pela Assembléia Constituinte de esmagadora maioria governista, a qual lhes tomou o lugar; a negativa da oposição em disputar as eleições legislativas, permitindo ao chavismo dominar o novo parlamento, criado pela sua constituição “bolivariana”; a mudança do nome do país para República Bolivariana da Venezuela, conferindo à denominação do Estado o lema de seu movimento político particular; a vitória do presidente sobre um desastrado golpe de Estado que os setores mais conservadores tentaram desferir-lhe, em 2002, voltando por cima e como herói; o seguido fechamento (ou cerceamento) de emissoras de rádio e TV oposicionistas; a vitória num referendo revogatório sobre seu mandato, e a derrota num referendo que expandir-lhe-ia tremendamente os poderes; o drible nesta última derrota pela aprovação, no parlamento, da expansão dos poderes da Presidência e das reeleições ilimitadas; o enfrentamento com as classes médias e altas e, em particular, com a elite da companhia nacional petroleira, a PDVSA, vergando-lhe a espinha e desmantelando seu poder numa longa greve; finalmente, as seguidas turras com os Estados Unidos e, principalmente, com o vizinho mais alinhado aos EUA, a Colômbia.

Uribe tem como a marca distintiva de seu mandato um encarniçado enfrentamento com as guerrilhas de esquerda associadas ao narcotráfico, as FARC e o ELN, impondo-lhes seguidas e importantes derrotas. Do outro lado, o presidente colombiano conseguiu promover negociadamente o desarmamento dos grupos paramilitares de direita, com os quais possui preocupante proximidade. O resultado líquido desse processo foi um considerável avanço do processo de pacificação na Colômbia, tanto nas áreas antes controladas pelas guerrilhas como nos grandes centros urbanos. É daí que provém sua altíssima popularidade. Articuladamente a este processo, a Colômbia estreitou seus vínculos militares com os Estados Unidos, permitindo a instalação de bases militares americanas em seu território, ouriçando seus vizinhos, principalmente a Venezuela chavista.

Deflagrou-se ontem mais um episódio do drama político que tem sido a relação entre os dois países durante os governos dos mandatários aqui retratados. Mais uma vez a Colômbia acusou a Venezuela de dar guarida a guerrilheiros que buscam solapar sua soberania, apresentando imagens dos acampamentos supostamente em território venezuelano como prova disto, o que resultou na imediata (e muitas vezes anunciada) ruptura das relações diplomáticas com o país vizinho. Como se não fosse suficiente, fiel a seu histrionismo e ladeado pela figura igualmente melodramática de Diego Maradona, Hugo Chávez alertou que, se necessário for, verterá seu próprio sangue para defender a soberania nacional, chamou a seu colega colombiano de mafioso e destilou ódio num discurso mesclado por sentimentalismo e fúria. Os colombianos, por sua vez, mantiveram a acusação.

Se o enredo outras vezes seguido se repetir agora, em algum tempo as coisas voltam ao normal. A posse de um novo presidente na Colômbia pode facilitar o arrefecimento dos ânimos conclamado pela OEA, apesar das ameaças, antes feitas pelo presidente venezuelano, de que haveria uma guerra entre os dois países no caso da eleição do uribista Juan Manuel Santos. Como, entretanto, o chavismo é dado à ciclotimia, pode-se esperar que em algum momento assuma uma fala mansa, dentro do estilo bipolar.

Curiosamente, essa anunciada crise explode justamente quando, no Brasil, a principal candidatura de oposição acusa o PT – e, consequentemente, sua candidatura presidencial – de vínculo com as FARC, pivôs do episódio. O interessante é que o governo brasileiro de imediato se prontificou a interceder junto às partes, promovendo sua reconciliação, por meio do assessor para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

É claro que, se as conseqüências de eventuais proximidades entre o PT e as FARC forem relevantes para a forma como o governo brasileiro atua, certamente a Colômbia rechaçará esta intermediação – tendo em vista sua parcialidade e suspeição. Tendo em vista, contudo, o histórico recente, não parece ser este o caso, indicando que uma campanha caracterizada por tais acusações corre o risco de descambar para um histrionismo similar ao protagonizado pelo chavismo, mas com sinal ideológico invertido.

Autoritarismo e eleições na Venezuela | com Paulo Velasco | 236

No domingo, dia 28 de julho, a Venezuela realizou sua eleição presidencial. O embate principal se deu entre o presidente do regime chavista, Nicolás Maduro, e o candidato oposicionista, Edmundo Pérez Urrutia, que concorreu pela Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Pérez Urrutia foi apenas a terceira opção oposicionista para a disputa, já que a principal líder da contestação ao chavismo, María Corina Machado, foi impedida de competir por ardis judiciais fabricados pelo judiciário subserviente ao governo, assim como sua primeira substituta, Corina Ioris, foi impedida de se inscrever no certame por supostas falhas no sistema.

Diversas pesquisas apontavam, por margens distintas, vantagem significativa para a candidatura da oposição. Contudo, após o pleito, antes mesmo de divulgar as atas de votação (correspondentes a nossos boletins de urna), o Conselho Nacional Eleitoral – também controlado pelo chavismo – anunciou a vitória de Maduro.

É difícil dizer que tal decisão causou perplexidade, já tais artimanhas são comuns ao chavismo desde seus primórdios. Contudo, diante da grande atenção da comunidade internacional para a disputa, bem como a presença no país de importantes órgãos de monitoramento eleitoral, como o Centro Carter, havia um fio de esperança de que desta vez o regime respeitasse o devido processo eleitoral. Como de hábito, tal respeito não existiu e o governo autoritário deu seguimento à política do fato consumado.

Rapidamente críticas se fizeram ouvir, inclusive vindas de governos de esquerda, como no Chile de Gabriel Boric e na Espanha de Pedro Sánchez.

Brasil, Colômbia e México, também governados por presidentes de esquerda, demonstraram cautela, anunciando ser necessária a divulgação das atas antes de qualquer pronunciamento. Noticiou-se que os três países emitiriam nota conjunta sobre a eleição.

Contudo, no Brasil, o PT, partido do presidente Lula, rapidamente chancelou o resultado, afirmando ter havido “uma jornada pacífica, democrática e soberana”, apesar de todos os constrangimentos impostos pelo regime à oposição e do apressado anúncio do resultado.

Ato contínuo, Lula, que vinha mostrando cautela, afirmou estar “convencido que é um processo normal, tranquilo” e que “não tem nada de grave, nada de assustador”, reiterando sua habitual postura de coonestar o autoritarismo chavista.

O que explica o processo em curso na Venezuela? Quais as origens desse estado de coisas? O que se pode esperar agora? Como entender a postura condescendente da esquerda brasileira com o autoritarismo chavista?

Para discutir tais temas este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o cientista político Paulo Velasco, professor do Departamento de Relações Internacionais e pesquisador do Laboratório de Estudos de Regionalismo e Política Externa (LeRPE) da UERJ, e coautor do livro “A Venezuela e o chavismo em perspectiva: análises e depoimentos”, publicado pela editora Appris.

As músicas deste episódio são “Headlands” e “The Center Isn’t Holding”, ambas do National Sweetheart.

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#Eleições #PolíticaVenezuelana

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Por que a democracia brasileira não morreu? | com Marcus André Melo & Carlos Pereira | 233

Desde o final dos anos 1990, diversas democracias mundo afora entraram em processo de declínio, ou ao menos de captura por lideranças, movimentos ou partidos populistas, autoritários e iliberais.

O primeiro caso foi o da Venezuela, que sucumbiu ao chavismo e viu erodir pouco a pouco sua até então longeva democracia (estabelecida pelo Pacto de Punto Fijo no final dos anos 1950). Tratava-se de um regime democrático repleto de problemas e oligarquizada, mas ainda assim, democrático. Deixou de sê-lo com a ascensão de Chávez ao poder.

O autoritarismo populista ganhou terreno também em alguns países europeus como Turquia, Hungria e Polônia, seja pondo termo a jovens democracias estabelecidas em países com longa tradição autoritária, seja ao menos piorando significativamente a qualidade desses regimes.

A onda populista autoritária chegou aos Estados Unidos com Donald Trump (que agora ameaça retornar ao poder), aprofundando uma tendência já verificada em estudos acadêmicos sobre a democracia: a tentativa de compreender a erosão ou recessão democrática (democratic backsliding).

Inevitavelmente, com a chegada de um extremista de direita à Presidência da República no Brasil, Jair Bolsonaro, essas preocupações também cresceram por aqui. E isso não foi apenas no meio acadêmico: também a sociedade civil e diversos atores do sistema político manifestaram sérias preocupações com o avanço autoritário representado pelo bolsonarismo e com as ameaças dele à ordem democrática brasileira.

O quanto essas ameaças eram críveis? A democracia no Brasil realmente correu riscos de quebra? Como ela resistiu aos ataques?

Para discutir tais temas este #ForadaPoliticaNãoháSalvação recebe os cientistas políticos Marcus André Melo e Carlos Pereira. Eles são os autores do recém-lançado livro “Por que a democracia brasileira não morreu?”, publicado pela Companhia das Letras. Sua obra desafia o senso comum acerca do problema e confronta muitas das interpretações mais estabelecidas.

Marcus Melo é professor titular de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco e colunista da Folha de S. Paulo.

Carlos Pereira é professor titular da FGV EBAPE (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) e colunista de O Estado de S. Paulo.

As músicas deste episódio são “Batuque Bom” e “Eletrosamba”, ambas de Quincas Moreira.

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#PartidosPolíticos

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Populismo e democracia no México | com Adrián Gurza Lavalle | 230

Pela primeira vez em sua história o México elegeu uma mulher para a Presidência do país, a cientista laureada com o prêmio Nobel, Cláudia Sheinbaum, do Movimento Regeneração Nacional (Morena), partido do presidente Andrés Manuel López Obrador, em aliança com o Partido Verde Ecologista de México e o Partido do Trabalho (PT).

Sheinbaum venceu a disputa com 60% dos votos, mais do que o dobro da segunda colocada, Bertha Xóchitl Gálvez Ruiz, postulante da coligação entre o direitista Partido de Ação Nacional (PAN), o tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país por sete décadas como agremiação paraestatal, e o Partido da Revolução Democrática (PRD), antiga dissidência à esquerda do PRI, que definha após ter sido abandonado por López Obrador, que saiu para criar o Morena.

Num distante terceiro lugar ficou o centro-esquerdista Jorge Álvarez Máynez, que disputou pelo Movimento Cidadão.

Contudo, a coligação do Morena não amealhou apenas a Presidência, mas também uma ampla maioria no Congresso, que lhe permitirá emendar a Constituição, e a esmagadora maioria dos cargos estaduais e municipais em disputa.

O que explica esse sucesso retumbante do populista Lópes Obrador? Qual o significado dessa vitória? O lopesobradorismo representa um perigo para a democracia mexicana?

Para discutir tais temas este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o cientista político Adrián Gurza Lavalle, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), vice-diretor do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e coordenador geral do INCT “Participa”.

As músicas deste episódio são “Moonlight in Mexico” de Jimena Contreras e “El Billete” de Edgar López e Quincas Moreira.

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#PolíticaMexicana #EleiçõesMexicanas #LópesObrador #AméricaLatina

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Bolsonarismo moderado existe? | com Guilherme Casarões | 225

Lideranças bolsonaristas têm procurado se apresentar ao eleitorado e à opinião pública como moderadas, mesmo mantendo seu apoio a Jair Bolsonaro, a despeito de tudo o que se sabe sobre suas tentativas de deflagrar um golpe de Estado e, consequentemente, uma ruptura democrática no Brasil.

Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Romeu Zema, em particular, tentam se apresentar como este oxímoro: “bolsonaristas moderados”.

Alguns analistas parecem levar a sério a possibilidade de que tal coisa exista, afirmando em colunas de jornal e rádio que esse “extremismo moderado” seria bem-vindo, ou simplesmente classificando tais extremistas de fala mansa como parte da “centro-direita”.

  • Faz algum sentido tal classificação?
  • Tem nexo a ideia de um “bolsonarismo moderado”?
  • Quais as implicações de levar tal ideia a sério?
  • Que ameaças à democracia representa essa extrema-direita dissimulada ou com modos à mesa?

Para discutir tal tema, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o cientista político Guilherme Casarões, pesquisador e coordenador do Observatório da Extrema-Direita (OED).

Casarões é professor da FGV EAESP e professor visitante na Universidade de Brown, nos Estados Unidos.

As músicas deste episódio são “Subtle Betrayal” do SYBS e “1940’s Slow Dance” de Doug Maxwell.

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#DonaldTrump #JairBolsonaro #PolíticaBrasileira

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Revolução dos Cravos: 50 anos | com João Paulo Avelãs Nunes | 224

Neste último 25 de abril completaram-se 50 anos da Revolução dos Cravos, que instaurou em Portugal, pela primeira vez, uma democracia. 

Além de derrubar a mais longeva ditadura da Europa Ocidental – o Estado Novo português –, o Movimento das Forças Armadas (MFA) inaugurou a terceira onda de democratização. Em seu âmbito ocorreram as transições à democracia noutros países do sul da Europa (Espanha e Grécia), na América Latina, no Leste Europeu, na África e na Ásia.

Hoje, quatro em cada cinco portugueses avaliam positivamente o 25 de Abril, mas ao mesmo tempo ganha terreno no país uma extrema-direita autoritária, racista e xenófoba, representada pelo partido Chega, saudoso do Salazarismo.

Qual o significado do 25 de Abril? Qual a natureza do Estado Novo português, derrubado em 1974? Que mudanças a revolução dos capitães permitiu que ocorressem em Portugal desde então? 

Para discutir tais temas, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o historiador João Paulo Avelãs Nunes, professor da Universidade de Coimbra e pesquisador de seu Centro de Estudos Interdisciplinares.

As músicas deste episódio são “Grândola, vila morena”, de Zeca Afonso (hino da Revolução dos Cravos), “Infados”, de Kevin Macleod e “A Trip Around the Moon”, dos Unicorn Heads.

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Elon Musk X Democracia | com Sérgio Amadeu | 222

Os ataques promovidos contra o Supremo Tribual Federal – e particularmente dirigidos ao ministro Alexandre de Moraes – pelo dono do ex-Twitter, atual “X”, Elon Musk, agitaram a cena política brasileira.

O ex-presidente, Jair Bolsonaro, rapidamente produziu um vídeo em que tece elogios a Musk como um “mito da liberdade”.

A base bolsonarista se excitou e, além de fazer muito barulho nas redes sociais, deflagrou iniciativas para tentar transformar o factoide em motivo para iniciativas de pressão sobre a Corte Suprema no Congresso.

Ato contínuo, a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara, dominada pela extrema-direita, aprovou uma moção de “aplauso e louvor” ao bilionário.

Noutros países também houve manifestações que aproveitaram o embalo para engrossar o coro de apoio aos extremistas brasileiros. O neofranquista Vox, partido da ultradireita espanhola, recebeu em Bruxelas uma comitiva de deputados bolsonaristas que foram até o Parlamento Europeu denunciar uma imaginária “ditadura” implantada pelo STF no Brasil.

O que está por trás dessa mobilização toda, capitaneada pelo magnata sul-africano? De que forma a extrema-direita se articula no mundo da alta tecnologia?

Para entender tal cenário, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), profundo conhecedor da relação entre as tecnologias da informação e a política.

Amadeu presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) e há anos acompanha os processos políticos que se desenrolam nesse âmbito.

As músicas deste episódio são “O Boy”, de Jeremy Black, e “Next Steps”, do half.cool.

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